terça-feira, maio 05, 2009

Palavras são para dizer, e não para enfeitar

De vez em quando, jornalistas de outras áreas, escritores, poetas, filósofos e artistas escrevem sobre futebol. Alguns fazem de rotina. Isso é ótimo. Por escreverem muito bem, não terem o olhar viciado nem conhecerem os clichês, eles enriquecem a crônica esportiva. Muitos desses pensadores não entendem de detalhes técnicos e táticos nem querem entender. Isso também é ótimo. Nelson Rodrigues tinha fama de não entender nada de futebol nem de ver o jogo por causa de uma limitação visual. Mestre Armando Nogueira, que entende muito do assunto e que tem ainda a alma de poeta e escritor, conta que assistia aos jogos no Maracanã ao lado de Nelson Rodrigues. Quando acabava a partida, Nelson segurava Armando pelo braço e perguntava: Como foi o jogo? Quem foi o craque? Nelson Rodrigues ia para a redação do jornal e, com suas delirantes e espetaculares metáforas, escrevia os textos mais bonitos que já li sobre futebol. As crônicas de Luís Fernando Veríssimo sobre futebol são também deliciosas. Uma que não esqueço é a do menino que ganha uma bola de presente do pai e pergunta: Onde liga? Tem manual? É em inglês? Aprendo também com as colunas escritas por jornalistas esportivos que leio diariamente nos principais jornais brasileiros. Todas vão além de detalhes técnicos e táticos. Aprendo ainda com alguns comentários de programas diários de esportes de rádios e televisões e durante transmissões de partidas. O Linha de Passe e o Pontapé Inicial, ambos da ESPN Brasil, são imperdíveis. Mauro César, Paulo Vinícius Coelho e Paulo Calçade, da ESPN Brasil, sabem muito de futebol. Paulo Vinícius compete com o Google. Gosto ainda dos comentários do Flávio Prado, na rádio Jovem Pan, e do Alberto Helena e do Marco Antônio, do SporTV. Há outros que não me lembro neste momento. No sonho, as minhas colunas seriam uma mistura de textos de vários colunistas esportivos, de Nelson Rodrigues, Luís Fernando Veríssimo e Carlos Heitor Cony, que deveria escrever mais sobre futebol. Acordo e não fico frustrado. Sinto apenas uma inveja, uma boa e carinhosa inveja. Tento apenas escrever textos claros, concisos e técnicos. Quase sempre não consigo. Mas ainda vou aprender. Sou novo. Não tenho orgulho nem vergonha de aprender. Juca Kfouri, uma das minhas referências na crônica esportiva, disse que meus textos parecem com os de Graciliano Ramos. Juca, menos, menos. Além disso, gosto de adjetivos e palavras bonitas. Graciliano detestava. Por isso, escreveu: "As palavras existem para dizer, e não para enfeitar".
Tostão
O Povo online

2 comentários:

  1. Não percebo nada de futebol mas também não sou cego.

    Quando em Londres tenho a oportunidade de ver jogos da Liga Portuguesa observo que muitos jogadores deveriam estar numa piscina a praticar seus mergulhos ou num palco de teatro melo-dramático tantas são as aflições de jogadores estandidos na relva.

    No que toca à falta de respeito pelos arbitros não vale a pena chamar a isso uma pouca vergonha visto que os jogadores que assim se comportam não possuem qualquer respeito profissional pelos espectadores, pela camisola que vestem nem pelos clubes que lhes pagam os chorrudos salários.

    E por isso que prefiro apreciar o futebol feminino quando nos é dada a oportunidade de ver jogar essas grandes desportistas.

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  2. Nem tudo é assim tão mau. Mas na generalidade tem alguma razão no que diz.

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