Uma história de Carlos Mesquita escrita para Todos Somos Portugal.
A bem do ecletismo desportivo uma história curta duma modalidade pouco referida, a caça desportiva.
Lê-se no Público que o lince-ibérico que veio de Jerez de la Fronteira para Silves “matou um coelho, o que revela instinto de caça”. Não o comeu, caça por desporto! Na notícia diziam também que em Jerez, o lince que é gaja e chama-se Azahar, “não comia coelho vivo mas sim pombo vivo e frango morto”. Como nem comeu o coelho morto e nunca vi comer um pombo vivo fui a Silves em busca da verdade.
Já no cativeiro onde o bicho vive em “liberdade”, perguntei a um homem antigo que semeava favas. Ó amigo; viu o lince a matar o coelho vivo, como li num jornal? Ora, puseram-lhe o coelho à frente, – disse enquanto se erguia das cócoras – parecia o Américo Tomás a caçar. Tenho que abrir um parêntesis para informar os leitores mais novos que este Tomás foi Presidente da República 16 anos e interromperam-lhe o mandato no 25 de Abril, caçava numa cadeirinha e punham-lhe os coelhos tão perto, que quando por sorte acertava tinham de se apanhar os destroços com uma colher. Continuemos. Então qual é o nome do meu amigo? Manel. Pois bem Sr. Manuel. Na, interrompeu, é Manel, e não ponha doutor atrás para ser diferente destes todos. Muito bem, e o que faz o Sr. Manel cá no Centro. Sou eu que falo com o Azar e o Azar só fala comigo. O quê? Duvidei, o lince fala? Só comigo, garantiu. Com cautela disse-lhe, o Sr. Manel desculpe mas o nome do lince é Azahar, nome árabe da flor da laranjeira. Levantou a mão e exclamou, não me fale de laranjeiras. Que aconteceu? Murmurei. Secaram-me todas por falta de água, foi o que aconteceu, ralhou desalentado. Mas agora estão a fazer a barragem de Odelouca, animei-o, foi por isso que veio o Azahar, para calar os ambientalistas, não é verdade? Dessem-lhes o brinquedo antes de me secarem as laranjeiras… cala-te boca. Ninguém ouviu, sosseguei, o Sr.Manel era capaz de me fazer umas perguntas ao lince? Consentiu. Pergunte aí se ele caça por desporto. Blá blá para lá blá blá para cá, veio a tradução: - diz que desportos para ele são as corridas do Autódromo de Jerez de la Fronteira e o bota abaixo de Xerez nas bodegas de Cádiz. E qual é o problema com a comida? Mais blá blá e…diz que tem saudades do pescaíto frito e dos flamenquins panados. E recheados não é? Respondeu que todos os flamenquins são recheados, seu ignorante, seu ignorante foi ele que disse. Olhe, foi-se embora, avisei. Está farto disto, disse o Sr. Manel, é só curiosos. E aqui entre as pessoas; é uma alegria suponho. Quando matou o coelho parecia um circo, e agora os circos vão deixar de ter animais pois há quem diga que são maltratados, isto é um sucesso. Ó Sr. Manel ver estraçalhar coelhos ou pombos (vivos como dizia o jornal) não é bonito. Ora, aqui todos bateram palmas. Todos? Bem…todos menos o coelho.
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