O Muro

Faz hoje 20 anos que caiu o muro de Berlim. Tanto sofrimento, tanta angústia, tantos mortos, para nada. Ao contrário do que previa Mao, foi o comunismo que caiu como um tigre de papel. Estive em 1982 no lado comunista da cidade e senti o frio e a desolação que aqueles blocos de cimento unidos à volta da cidade representavam para as populações de ambos os lados, muitos deles familiares e amigos, separados pela força e pela intransigência dos homens. Apesar de tudo, até pelo contraste que vinha do lado oeste, a RDA era o "melhor" dos países socialistas em termos de desenvolvimento e modernidade. A Roménia, a Bulgária e a própria URSS, países que ainda visitei enquanto a Europa se encontrava dividida, eram muito mais atrasados e conservadores. Caiu o muro físico, existe liberdade, democracia, os povos têm a possibilidade de escolher os seus destinos, mas será que na prática não continuam a existir outros muros, porventura mais difíceis de cair? Em 2007 visitei de novo a parte oriental da Alemanha, e, apesar de todos estes anos e de todo o investimento realizado, nota-se que continuam a existir claras diferenças comportamentais, de confiança, de riqueza e de poder entre as duas áreas desse país. Contudo hoje é um dia de festa para os alemães e para todos aqueles que acreditam, como eu, que a liberdade é o bem supremo da vida. Os outros problemas voltam amanhã.