terça-feira, outubro 06, 2009

Estrangulamento das Selecções


Um texto bem elaborado por Nuno Madureira, no maisfutebol, sobre o assunto em referência, que transcrevo em seguida e com o qual estou inteiramente de acordo. Em complemento à última entrada sobre o assunto, gostaria de acrescentar como exemplo, se o jogo Nacional/Vitória SC não se tem realizado, como esteve para acontecer, estando previsto o seu adiamento para 3ª feira, o problema que não surgiria entre os Clubes, a Liga e a Selecção. Como se sabe a Selecção "Sub/21" joga com a Grécia, na próxima 6ª feira, a 200 kms de Atenas, viajando na 4ª feira. Ora isto não é modelo de organização, é sim princípio de conflito desnecessário. Não estou em desacordo com o facto do segundo jogo das jornadas duplas ser à terça-feira, o que estou em desacordo é com o facto de se negociar sem se receber nada em troca. E a troca seria obviamente o final dos jogos às segundas-feiras ou o aumento do número de dias de cedência dos jogadores às selecções. Não foi o que aconteceu. Mais uma vez as selecções nacionais ficaram a perder.


O tema já foi levantado em dois blogues (todossomosportugal.blogspot.com e antonioboronha.blogspot.com) com ligações, presentes ou passadas, à Selecção portuguesa. Por isso, e porque entramos em semana de Mundial, vale bem um apontamento.

Ao encurtar em um dia as datas disponíveis para os jogos de selecções, já a partir de Setembro de 2010, o Comité Executivo da FIFA deu na semana passada mais um sinal sobre qual o lado mais forte no conflito de interesses entre clubes e equipas nacionais.

A partir das qualificações para o Euro-2012 as jornadas duplas deixarão de ser feitas entre sexta e quarta-feira, como até aqui. A janela passa a terminar à terça. O objectivo, óbvio, é atenuar as queixas dos clubes, privados dos jogadores mais importantes em alturas cruciais da temporada. O que faz sentido, visto que são quem lhes paga o ordenado.

Assim, enquanto as selecções vêem o espaço encurtado, os calendários das provas de clubes alargam-se de ano para ano, com as jornadas das várias Ligas repartidas por três ou quatro dias, de acordo com os interesses televisivos.

As consequências desta medida são óbvias: menos um dia de treino para as selecções, menos espaço para as competições de sub-21 e, em geral, menos qualidade de trabalho nas equipas nacionais.

A corda cede pelo lado mais fraco e o contraponto à profissionalização dos clubes de topo parece ser um gradual estrangulamento das selecções nacionais. À imagem do basquetebol, que tem a NBA como referência máxima de qualidade, e não os Campeonatos Mundiais ou os Jogos Olímpicos.

É bom que os adeptos - que por regra colocam todo o fervor na defesa dos interesses específico do seu clube e ligam pouco, ou nada, ao cenário de fundo - percebam que, neste caminho, o futebol hipoteca uma parte substancial do seu património afectivo.

Até à data, as selecções são a expressão mais genuína do processo de identificação (local, regional e nacional) que fez do futebol um dos fenómenos de massas mais transversais no século XX. Quando deixarem de sê-lo estará completa a transformação do futebol numa indústria especializada e global. Há muito quem o deseje. Boa sorte e bom proveito.



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