Ao encurtar em um dia as datas disponíveis para os jogos de selecções, já a partir de Setembro de 2010, o Comité Executivo da FIFA deu na semana passada mais um sinal sobre qual o lado mais forte no conflito de interesses entre clubes e equipas nacionais.
A partir das qualificações para o Euro-2012 as jornadas duplas deixarão de ser feitas entre sexta e quarta-feira, como até aqui. A janela passa a terminar à terça. O objectivo, óbvio, é atenuar as queixas dos clubes, privados dos jogadores mais importantes em alturas cruciais da temporada. O que faz sentido, visto que são quem lhes paga o ordenado.
Assim, enquanto as selecções vêem o espaço encurtado, os calendários das provas de clubes alargam-se de ano para ano, com as jornadas das várias Ligas repartidas por três ou quatro dias, de acordo com os interesses televisivos.
As consequências desta medida são óbvias: menos um dia de treino para as selecções, menos espaço para as competições de sub-21 e, em geral, menos qualidade de trabalho nas equipas nacionais.
A corda cede pelo lado mais fraco e o contraponto à profissionalização dos clubes de topo parece ser um gradual estrangulamento das selecções nacionais. À imagem do basquetebol, que tem a NBA como referência máxima de qualidade, e não os Campeonatos Mundiais ou os Jogos Olímpicos.
É bom que os adeptos - que por regra colocam todo o fervor na defesa dos interesses específico do seu clube e ligam pouco, ou nada, ao cenário de fundo - percebam que, neste caminho, o futebol hipoteca uma parte substancial do seu património afectivo.
Até à data, as selecções são a expressão mais genuína do processo de identificação (local, regional e nacional) que fez do futebol um dos fenómenos de massas mais transversais no século XX. Quando deixarem de sê-lo estará completa a transformação do futebol numa indústria especializada e global. Há muito quem o deseje. Boa sorte e bom proveito.
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