segunda-feira, outubro 19, 2009

Literatura policial à portuguesa

Um pouco de humor e sarcasmo num texto de Carlos Mesquita. Há vida para além do futebol.

Andam a brincar com coisas sérias.

Com a seriedade que o caso pede, mais um contributo para ajudar na resolução do enigma de grande título “ O intrincado caso da segurança vulnerável do palácio presidencial de Belém”. Tirámos da literatura policial onde passa o tempo o auto intitulado investigador Augusto Discreto (AD) e pedimos-lhe para ir na peugada do “garganta funda” de S.Bento. Telefonou-me aos berros, como sempre. – A única referência que encontrei de garganta funda é uma actriz dos anos 70, a Linda Lovelace, mas já morreu e isto não foi fácil, enviei um mail primeiro para o Inferno, depois tive de reenviar para o Céu pois é lá que ela está; vê lá que para a punirem pela vida de luxuria na Terra, agora está rodeada de anjos alados que têm muita pena mas não têm sexo, um castigo bem observado não é? Fez uma pausa aproveitando eu estar sem palavras e continuou... pois a Linda diz que não consegue engolir o discurso de Cavaco por estar engelhado e não ter ponta por onde pegar. Ó AD - interrompi - garganta funda era o pseudónimo do fulano que denunciou as escutas do Nixon; tens alguma fonte em Bélem, ou é só pornografia? Continuou o AD; Isto é tudo pornografia como bem sabes, podias ter dito – gritou enquanto revia os seus recursos – em Belém, tenho pois, tenho o Adamastor, está protegido contra varrimentos electrónicos escondido num livro que não digo o título para não o denunciar. Não preciso de saber, disse-lhe. Dou-te uma pista - insistiu - esse livro foi impedido de desbotar num naufrágio, por um zarolho que o meteu num Tupperwere e nadou várias piscinas olímpicas para o salvar. Olha que o descobrem, avisei. Ora, disse a bazófia do Augusto Discreto, se estás sob escuta, ainda fazem uma rusga à Tupperwere, mas o Adamastor não serve, está reservado para algo verdadeiramente conspirativo, depois ligo.

O Augusto Discreto foi professor de história, agora vive de biscates, tem os neurónios chamuscados dos charros, mas como ele gosta de dizer, “se me tivesse metido nas drogas duras não conseguia o lugar de arrumador de caravelas no Clube Náutico”. É útil às vezes.

Ligou de novo. Tenho novidades mas não são baratas, custaram uma máquina manual de enrolar cigarros e um ror de mortalhas para o Beatas. Quem é esse? Perguntei. É um independente como eu, auxilia o trânsito na passagem de peões fronteira ao palácio. Tem um contacto que diz ser um graduado fardado à civil, eu suspeito ser jardineiro, que lhe segredou que forças especiais apanharam o intruso que mexia nos computadores. Quem é? São dois, a Mimi e o Tareco, pois, um casal de gatos birmaneses que se divertiam nas horas mortas a brincar com os ratos dos computadores. Isso está confirmado? Indaguei. O Beatas sabe que nisto da espionagem em cada três informações duas são falsas, confirma só que entrou nas instalações um veículo da Clinica Veterinária dos Jerónimos – Hotel e Petshop. E depois? Depois chamaram Teresinha Wesley. Ouvi falar numa sexóloga de nome parecido, interrompi, que foi colega duma psicóloga terapêutica amiga minha. Se calhar, continuou o AD, é tetraneta bastarda do Duque de Wellington emalhado de afecto carnal na terra da chanfana, com formação em sexualidade animal, aprofundada na indústria familiar quando matava cabritos na Malaposta. Isso tudo não sabia, atalhei, e o que foi ela lá fazer? Foi a Teresinha que deslindou a razão para o estranho comportamento dos bichanos, toma nota disto que é importante, diz-se que alguém da Casa Civil ou da Casa Militar tinha mandado esterilizar a Mimi e capar o Tareco. Isso que tem, não é crime como diz o outro, comentei. Espera, segundo a Teresinha “um casal habituado a brincar com a pilinha se perde o gosto só lhe resta a Internet, é mais comum do que o que se pensa”. É uma opinião, e depois? Seria se esta frase não tivesse sido classificada como Cosmic Top Secret por receio das autoridades de poder causar alarme na população portuguesa. Mas isso não é normal, fui dizendo, queres dizer que o discurso atabalhoado de Cavaco foi afinal para defender um segredo de Estado. Não sei, de política nada sei, afirmou AD. E sobre a iliteracia informática de Cavaco Silva, sabes algo? Uns zun-zuns, chegou ao conhecimento de Belém que há cursos para entradotes na Universidade Sénior do Porto, mas ainda estão a ver se para saber o suficiente de informática é preciso ir às aulas ou basta o título Honoris Causa da Universidade. Há aí fumo? Não se vê um palmo à frente do nariz! Obrigado AD.

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