"...Entre os bafana bafana, os futebolistas da selecção sul-africana, entre aquela maré negra, destacava-se o defesa central Matthew Booth. Além do seu 1,98m (o mais alto da equipa) e da sua cabeça brilhante de rapada, era o único branco da equipa. Os olhos dos jornalistas notaram também que, nas bancadas, a supremacia dos negros sobre os brancos ultrapassava a relação de oito para um, que existe no país. Na África do Sul, o râguebi é a paixão dos brancos e o futebol, a dos negros.Ora a esses dados visuais juntava-se um som: buuuuuuuuuuuu! De cada vez que os jornalistas viam o defesa central branco tocar na bola, viam também os espectadores alarmarem-se e deles vinha aquele som intenso que em todos os estádios é considerado insulto, vitupério, xingadela. O claro desaforo de que o pobre atleta branco era alvo por parte da multidão negra era sublinhado pelo uso barulhento dos vuvuzela, as trompetas feitas de corno dos veados kudus. Booth estava a ser sujeito à mesma receita racista, com troca das cores, que certos estádios espanhóis reservam a Eto'o, o avançado camaronês. No dia seguinte ao jogo, os jornalistas europeus assinalaram o intolerável gesto. Anteontem, a questão foi posta ao próprio: deve custar-lhe muito ouvir aquele "buuuuuuu!" da multidão... Mas, para espanto de todos, Matthew Boot deu um gargalhada: "Mas que insulto?!" E explicou: buuuuuu! é o grito que prolonga o seu nome, Booth. Não é insulto, é incentivo. Ele, que foi capitão da selecção de esperanças e dos sub-21, é o mais popular e querido jogador dos bafana bafana.E a esta confusão negra e branca os jornalistas acrescentaram um sorriso amarelo."
Vale bem a pena ler a totalidade do artigo de Ferreira Fernandes, no DN de ontem.
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