quarta-feira, agosto 19, 2009

Incomparáveis





Na "A Bola" e no DN de 2ª feira, foram publicados dois artigos que abordaram o mesmo assunto, mas com sentimentos diferentes. O primeiro, da autoria de Fernando Guerra, aproveitou a dífícil situação profissional por que passa Ricardo, colocando-o em comparações, despropositadas, com Vitor Baía. O segundo, da autoria de João Lopes, faz uma abordagem correcta e humana sobre situações deste tipo.

"Hoje aos 39 anos, Baía continua a ser o futebolista com mais títulos no Mundo, é director de relações externas no FC Porto e finalista no curso de gestão do desporto do Instituto Superior da Maia. Ricardo, aos 33, perdeu a titularidade na equipa de Portugal, e foi achincalhado pelo presidente do Bétis, considerando-o culpado pela despromoção do clube. Afinal, não passou de peão de conveniência, iludiu-se. Serviu para alimentar um capricho: excluir Vitor Baía da Selecção, apenas isso. Não são comparáveis. Que os mais novos saibam retirar ensinamentos desta lição"


Na óptica do jornalista e se pudessemos voltar atrás, estou a ver Ricardo a dizer a Luiz Felipe Scolari: "Mister, não me convoque por favor, que o Baía tem mais títulos que eu e vai tirar um curso daqui a uns anos. Por favor mister, não me faça isso, porque qualquer dia vai aparecer por aí um jornalista a derreter-me!"


"O imaginário futebolístico português está cada vez mais ferido por este tipo de processos em que, com chocante facilidade, se fabricam "heróis" para usar e deitar fora. Veja-se o caso de outro guarda-redes, Ricardo, muito celebrado pelo seu protagonismo nos quartos de final do Euro 2004, quando a selecção portuguesa eliminou a Inglaterra. O empolamento das proezas de Ricardo nesse jogo (com o célebre tirar das luvas para defender um pénalti) contrasta com a imensa indiferença com que, actualmente, é tratada a sua passagem não muito feliz pela equipa espanhola do Bétis: será que estes "heróis" já não merecem ser considerados quando, desportivamente, as coisas lhes correm menos bem?"

Há uma enorme diferença no tratamento da mesma notícia. A primeira, não consegue disfarçar uma atitude crítica bem negativa, para com um jogador que foi, bem ou mal, não interessa para este caso concreto, internacional por Portugal por 79 vezes. Mais que não fosse, só por isso, mereceria um pouco mais de respeito. A segunda, analisa com frieza e correcção uma situação corrente no mundo do futebol, os "heróis" descartáveis.

O mesmo assunto, duas análises, uma feita desrespeitosamente, a outra, a colocar uma questão que atravessa o futebol em todos os sentidos, o esquecimento dos "heróis" do momento.

Sem comentários:

Enviar um comentário