Em 1996, mais ou menos por esta altura do ano, desloquei-me a Kiev, acompanhado pelo meu amigo Sr. José Carlos Esteves, actual médico do FC Porto, a fim de preparar o jogo Ucrânia/Portugal que teria lugar em 5 de Outubro desse ano. Fomos visitar os hotéis, estádio e possíveis campos de treino. A Ucrânia era na altura uma sociedade com imensos problemas a sair ainda do poder soviético de que fez parte integrante, mas cujos dirigentes eram ainda praticamente os mesmos do passado. Fomos extremamente bem recebidos dado que era a primeira vez que uma delegação da FPF visitava aquele país e aquela federação. Depois de cumprido o trabalho fomos convidados para uma refeição pelo Presidente e Secretário Geral da Federação de Futebol da Ucrânia. O jantar começou com brindes, sempre acompanhados de vodka, servidos em pequenos copos. Ao fim de alguns brindes e já com alguns deles a serem despejados por nós, não pelos anfitriões, discretamente, num vaso com plantas, o Presidente fez um brinde à vida. Perguntei-lhe o significado mais exacto do brinde e rapidamente explicou-me que a sua/deles esperança de vida era um mistério em função do desastre de
Chernobyl, ocorrido dez anos atrás e pelo facto de se sentirem quase sempre doentes sem explicação plausível a não ser o facto de terem estado muito próximos do local onde ocorreu a explosão e portanto sujeitos a uma enorme exposição. Nunca mais os vi e nada mais soube deles e como recordação desse ainda tenho duas garrafas de vodka produzida localmente na propriedade rural do Presidente. Hoje passam 25 anos do desastre, sem se conhecer solução para aquela central, e ainda há quem sugira a energia nuclear como futuro.
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