O excelente editorial de Fernando Santos no jornal "O Jogo" de ontem, aborda de forma simples uma questão fundamental na nossa sociedade. Passo a transcrever:
"Carlos Queiroz e a Federação Portuguesa de Futebol, embora de modo involuntário, podem ter dado ontem importante contributo para um País melhor.
Todos os dias há milhares de empresas e de cidadãos anónimos envolvidos em processos judiciais sem fim à vista. Sabe-se que é assim, que em Portugal se avolumam prejuízos económicos ao desgaste de energias sem uma sentença no horizonte próximo, mas não há nada melhor do que o envolvimento de personagens ou instituições mediáticas para o alerta susceptível de substituir a indiferença pelo corar de vergonha. E se a vergonha for muita (pode acontecer, um dia…), talvez aja em conformidade quem pode e manda.
É neste enquadramento que Carlos Queiroz e a FPF surgem. O processo de despedimento do ex-seleccionador foi ontem alvo de uma tentativa de conciliação em Tribunal de Trabalho. E à falta de um entendimento, foram marcadas as primeiras audiências de julgamento para Setembro de 2012! Leu bem: Setembro de 2012!, quase daqui a dois anos - sendo impossível garantir a inexistência de mais adiamentos.
No mesmíssimo dia em que o Governo anunciou estarem a caminho alterações ao Código do Trabalho, alegadamente para a dinamização da economia, o caso Queiroz-FPF é paradigmático de como é tão ou mais urgente proceder ao expurgar de outros quistos malignos da sociedade portuguesa, em prol do investimento e de uma estratégia."
Ontem ainda, um amigo meu, testemunha de um processo a decorrer num tribunal do Porto, levantou-se da cama às cinco da manhã, para se deslocar a essa cidade a fim de ser ouvido num processo em julgamento. Chegado ao tribunal às 10.00 horas, a audiência decorreria meia-hora depois, aguardou que o chamassem até cerca das 13.00. Não o fizeram e adiaram o seu depoimento para Janeiro, porque não haveria oportunidade para o ouvir durante o resto do dia. Ninguém lhe perguntou se haveria prejuízos na sua vida, nem existe oportunidade e meios para protestar e actuar contra factos deste tipo. Os cidadãos não têm sindicatos para os defender como aqueles que defendem os senhores juízes. Estamos todos nas mãos de pessoas sem o mínimo de sensibilidade e que se colocam na sua vida acima dos cidadãos comuns. Democracia é só para alguns.
Os nossos tribunais precisam de um bom abanão.Eu,que até simaptizo com o actual ministro da justiça,esperava que ele fizesse algumas boas"reformas" neste sistema.Até agora,mais do mesmo.
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