De facto estou à rasca, eu e todos os outros da minha geração, pelo facto de não termos conseguido explicar aos jovens de hoje que isto não é uma revolução, e que isto não é o 25 de Abril dos tempos actuais. Somos, a minha geração, também responsáveis por termos dado hipótese a que algumas dezenas de milhares de crápulas tenham vivido todos estes anos à custa de expedientes, de vigarices e corrupção, assistindo a tudo com a maior das complacências. Estamos à rasca porque permitimos a confusão entre os interesses reinvidicativos dos sindicatos e a sua actual posição de poderes paralelos que querem fazer política, deitar governos abaixo, sempre na nossa sombra e dizendo que estão a defender os nossos interesses. Estamos à rasca porque permitimos que os partidos políticos, tenham à sua volta uma quantidade de tipos, minoritários, mas reais, unicamente interessados na sua fatia do bolo, usufruindo vários vencimentos, várias pensões e ainda se dando ao luxo de comentarem o país que temos como se fossem virgens puras. Estamos à rasca porque permitimos que a justiça funcione como conhecemos, em que os processos demoram anos e anos a fio a serem resolvidos para depois, no final, só os pilha-galinhas serem condenados. Os pilha-galinhas e o Vale Azevedo. Estamos à rasca quando alguns dos que são directamente responsáveis pela situação difícil que muitos portugueses vivem, terem a lata de dizer que os jovens têm direito à indignação, e que é preciso um "sobressalto cívico", dizendo isto sem corarem um pouco que seja. Estamos à rasca por tudo isso, e por muito mais, e talvez por isso, a maioria dos que se manifestaram têm razão em muitas das coisas que disseram. No entanto, apetece perguntar, e os outros jovens, os que não têm licenciaturas e mestrados e os nossos reformados com pensões baixas, não serão esses que estão mesmo à rasca?
Numa tarde de Maio de 1991, 18 jovens, cada um com uma placa na mão, com uma letra impressa, apresentaram-se no relvado do Estádio Nacional, no intervalo da Final da Taça de Portugal. Juntas as 18 letras, formou-se esta frase. Luís Figo, Rui Costa, João V.Pinto, Jorge Costa, Rui Bento, Brassard, Peixe, entre outros, eram os jogadores que formavam esse grupo. Semanas depois, em Lisboa, mas no Estádio da Luz, perante 127.000 espectadores, tornaram-se Campeões do Mundo Sub/20.
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