domingo, outubro 03, 2010

Discordo




"Podemos ganhar jogos? Podemos! Podemos ganhar à Espanha? Podemos! Mas não merecemos. Jogadores nascidos por regeneração natural e por passes de mágica?"

Palavras de Carlos Queiroz sobre o futebol português.

Se um país tão fraco como este, constantemente posto em causa por tudo e por nada, em que as próprias vitórias não são merecidas, consegue, apesar disso, gerar talentos como Luís Figo e Cristiano Ronaldo, estes os de maior expressão, entre tantos jogadores, o que não será dos outros, perfeitos, em que as vitórias são merecidas. Por exemplo, o caso de Inglaterra, com tantos talentos, nascidos sem ser por geração espontânea, com tanta capacidade, com tanta organização, mas que mesmo assim não nos consegue ser superior nos confrontos directos da selecção principal como nos comprova a história recente. E a França? E tantos outros na Europa? Temos falta de meios? Temos. Temos falta de alguma visão estratégica de desenvolvimento? Temos. Temos falta de uma estrutura nacional com autoridade para resolver os problemas diários? Temos. Temos falta de espaços dignos para treinos? Temos. Temos quadros competitivos anacrónicos e ultrapassados? Temos. Mas se mesmo assim conseguimos estar no 8º lugar do ranking da FIFA, estar presentes na maioria das fases finais dos europeus de sub/17 e sub/19 e sub/21 dos últimos vinte e cinco anos, estar em todas as fases finais de seniores desde 1996, com excepção de 1998, se somos vice-campeões europeus de futsal, será por alguma razão. Não somos os melhores. Não somos de facto. Seremos alguma vez os melhores? Não sei. Podíamos estar melhor? Talvez. Será possível mudar alguma coisa? Talvez, mas tenho dúvidas. Mas dizer que apesar de tudo isto, com todos os problemas que enfrentamos diariamente, não merecemos o que conseguimos ou viermos a conseguir, parece-me pouco razoável e pouco justo, sobretudo para os milhares de carolas, dirigentes e técnicos, que todos os dias enchem os campos do nosso país fomentando o nosso futebol juvenil e dando o seu melhor, graciosamente, num país sem meios e sem condições de trabalho. Essas pessoas também não merecem? Para terminar, só um pequeno exemplo, o sector de grassroots - futebol de base não competitivo -, da federação inglesa, tem um orçamento largamente superior a todo o departamento técnico da FPF, incluindo a Selecção Nacional "AA". A isto chama-se comparar o incomparável. Este é um debate que merece e deve existir, mas que necessita de contraditório. Para ouvir e nos ser apresentada uma só opinião como se fosse "a verdade", já temos a nossa conta bem amarga. Acabo como comecei. Discordo, com respeito e sem ofensa.


2 comentários:

  1. Já o disse por diversas vezes, essas palavras de Carlos Queiroz são fruto de estados de espírito momentâneos.
    Boa sorte para ele no futuro, é o que desejo.

    ResponderEliminar
  2. CQ precisa de ganhar carácter, de saber ganhar e perder, de explanar com frieza e honestidade as razões das suas vitórias e derrotas, precisa de ser melhor treinador e melhor líder.

    ResponderEliminar