sexta-feira, julho 02, 2010

Derrotas

No momento da vitória, estão lá todos, sempre. Para a foto, para a comissão, para o autógrafo, para o beijinho. Na hora da derrota, muitos fogem em silêncio e outros, que davam palmadas nas costas feitos amigalhaços, gritam “eu bem avisei”. Não sou desses, quer por (de)formação pessoal, quer pelo facto de ter no coração um clube que nos ensina mais a lidar com as derrotas, que com as vitórias: o Belenenses.

Se ter o privilégio de partilhar algumas ideias neste espaço tão bem gizado pelo Carlos Godinho já era uma honra, é com indisfarçável orgulho que o faço neste momento, em que o que é fácil é gritar “eu bem avisei”.

Há dois anos atrás, quando iniciámos esta longa caminhada rumo ao Mundial 2010, fui dos que tinham dúvidas sobre a anunciada “facilidade” do nosso grupo de qualificação. Disputar o primeiro lugar com a Suécia e Dinamarca e ainda apanhar a Hungria no grupo, traz uma certa dificuldade de prognóstico, pois a Suécia é normalmente um outsider como nós e a Dinamarca estando uns furos abaixo, é também uma selecção sempre complicada.

Acresce a isso que a nossa selecção vinha em perda de valores individuais desde 2004, apesar de nesse período terem surgido alguns jogadores importantes, mas na globalidade o nível geral decresceu ligeiramente. O início da qualificação trouxe-nos um sonho, e um pesadelo, tudo no mesmo jogo: a uma exibição inimaginável contra a Dinamarca, que podia ter resultado numa vitória por números obscenos (não fosse o nosso crónico problema de finalização) e que nos lançava para uma Fase de Qualificação afirmativa, olhando os adversários de cima para baixo, juntou-se uma derrota surreal, nos últimos minutos, em lances bizarros, que nos baralharam as contas da qualificação de forma veemente.

O alarme soou com o nosso empate na Albânia. Porém, ao contrário do que era por muitos afirmado, continuávamos na corrida. E um percurso imaculado daí em diante, com um play-off passado com distinção, colocaram-nos no Mundial. Aqui chegados, num grupo com Brasil, Costa do Marfim e Coreia do Norte, era nossa meta a passagem da Fase de Grupos.

Assim aconteceu, com a melhor defesa e melhor ataque do torneio. Calhou-nos em sorte, nos oitavos-de-final, a campeã europeia, Espanha, uma das melhores selecções da actualidade, com a particularidade de ter um tipo de futebol muito próprio e ao qual ainda ninguém conseguiu dar cabal resposta nos últimos anos. Olhámos o adversário nos olhos, e perdemos na única vez que a Espanha conseguiu penetrar na nossa defesa (o seu ponto forte).

Saímos do Mundial mais fortes do que entrámos. Às dúvidas que Eduardo lançava ainda há um mês, respondeu o transmontano que sai da prova como um guarda-redes de nível mundial, ambicionado pelas maiores equipas da Europa. Saímos com uma defesa quase intransponível, mundialmente reconhecida. Pecámos apenas na zona ofensiva, muito por culpa de falta de opções. Recorde-se que Silvestre Varela e Ruben Micael lesionaram-se a poucos meses do Mundial quando eram opções a começar a ter em conta. Nani, elemento em destaque nos últimos meses quer em Manchester, quer na Selecção, lesionou-se já no estágio. E Bosingwa, ao contrário do que possa parecer, faz uma falta tremenda no desbloqueio de situações ofensivas, nunca me preocupou a sua substituição cá atrás, o que faz falta é o “abre-latas” lá à frente.

Fomos eliminados pelo campeão europeu, que nos últimos 4 anos perdeu apenas 3 jogos (na qualificação para o Euro 2008). Somos uma equipa em crescendo e daqui a 2 anos há o Euro 2012, já sem alguns dos que estiveram presentes nos últimos anos, mas com outros que estão na calha e, esperemos, com mais sorte. Porque no fundo o futebol é um jogo. E, num jogo, a sorte é sempre meio caminho andado para o sucesso. Obrigado a todos por nos terem feito acreditar que era possível, pese embora as contrariedades que sempre se encontram em qualquer caminho.

Um texto de Luciano Rodrigues

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